SOBRE O PROJETO
O projeto Territórios da Cultura. Circuito Ocoy-Jacutinga nasce de uma imersão junto à comunidade de Ocoy e de visitas aos acampamentos. Neste período foi possível uma aproximação com a história do lugar e das pessoas que vivem ali, confinadas pelo agronegócio e por um grande projeto de investimento. A população Guarani, nesta região, foi sendo submetida a sucessivos ciclos de violência e com isso a fragilização e, em certa medida, a tentativa de extermínio de seu viver autêntico. A exceção do Serviço de Saúde Indígena (SESAI) e da Educação Indígena, não existem equipamentos voltados para o fortalecimento dos vínculos de convivência e pertencimento comunitário, alinhados com as especificidades de sua cultura e identidade. Na região trinacional, o que podemos observar é o aumento da produção de não lugares cuja principal característica é a diluição, descaracterização e descontinuidade de tudo aquilo que é diverso ou pluriverso.
O que se vivenciou também, foi como a perda da esperança e ausência de projetos de vida estão adoecendo mulheres e jovens indígenas. Um exemplo é o caso de autoextermínio que ja alcança homens em idade adulta.As violências contra os povos guarani regiao acontecem de formas sutis, também, como a elevação de preço de determinados produtos, a entrega de gêneros, especialmente alimentícios, de qualidade comprometida.Soma-se a tudo isso a ausência de autonomia na gestão dos territórios que contam com alto grau de interferência associada à baixa autonomia das comunidades.
Com a retomada da cultura e das artes no Brasil, os editais da FUNARTE, se mostraram como uma oportunidade de desenvolver um conjunto de ações continuadas. A partir da aprovação do projeto, temos na FUNARTE a nossa financiadora para as atividades de introdução de três espaços artísticos nos territórios demarcados e a produção de uma agenda calendarizada que promova tanto o fortalecimento da identidade cultural das pessoas no território quanto a criação de redes que possibilitem a interação com o mundo não indigena e fortalecimento das capacidades internas dos territórios.
Temos uma equipe composta por indígenas e não indígenas que atuam nos três territórios demarcados e uma rede de parceiros que ao longo dos anos vem desenvolvendo ações com as comunidades, especialmente, àquelas relacionadas à cultura e inclusão social dos Guarani no oeste paranaense. Foi instituído um Conselho Gestor do Projeto que pretendemos manter durante todo o ciclo de vida do Circuito e, mais para frente, um coletivo de curadores indígenas, que serão responsáveis pela curadoria dos espaços.